top of page

Apresentação

A série Portal Cromático, de Benedito Cesar Silva, apresenta-se como um dos exercícios mais contundentes da arte contemporânea no Brasil: a cor, a repetição e a forma tornam-se matéria essencial para a construção de um discurso visual que transcende o plano pictórico e se converte em experiência imersiva.

Cada obra é mais que pintura: é travessia. O portal, arquétipo universal de passagem, torna-se aqui matriz formal e poética. Multiplicado em cadência rítmica, transforma-se em trama, arquitetura, ritual cromático.

Contexto

Historicamente, a arte abstrata construtiva buscou rigor e racionalidade, enquanto a arte óptica explorou a percepção e a instabilidade do olhar. Benedito, porém, ultrapassa esses limites: ao repetir o arco, não apenas explora o impacto visual, mas cria uma liturgia da cor, em que cada variação cromática sugere atmosferas distintas — solares, sombrias, minerais, festivas, vulcânicas.

Assim, a série se aproxima da tradição do mosaico, da tapeçaria, da azulejaria e dos padrões ornamentais, reinterpretando-os em chave contemporânea e espiritual.

Poética da Obra

A repetição, em Portal Cromático, não é redundância: é ressonância. Cada arco ecoa o anterior e anuncia o seguinte, em um movimento contínuo que revela o tempo em camadas.

A cor assume protagonismo absoluto. O artista não a utiliza como ornamento, mas como substância vital:

  • Os vermelhos incandescentes revelam energia e combustão.

  • Os dourados e ocres evocam camadas minerais e memória ancestral.

  • Os azuis intensos e elétricos sugerem travessias cósmicas.

  • Os verdes densos remetem à organicidade e à vida primordial.

Cada portal é um estado, uma atmosfera, uma experiência visual e sensorial.

A Experiência do Espectador

O espectador não apenas contempla a série: ele é absorvido por ela. O olhar, ao percorrer a repetição infinita dos arcos, é levado a um estado meditativo. De perto, percebe-se a densidade das camadas cromáticas; de longe, a obra pulsa como uma entidade única, um campo vibratório que altera a percepção do espaço.

O resultado é uma experiência de imersão: Portal Cromático não se limita à visualidade, mas transforma-se em rito de passagem para o olhar.

Inserção na História da Arte

A série se conecta a movimentos históricos como a Op Art, o Abstracionismo Geométrico e o Construtivismo, mas se distingue por sua ênfase simbólica e espiritual. O portal, símbolo de limiar, é aqui reinterpretado como metáfora da própria arte: passagem entre o visível e o invisível, entre o mundo comum e o mistério.

Conclusão

“Portal Cromático é mais que uma série de obras: é uma cartografia espiritual. Cada peça é um capítulo de uma narrativa infinita, um mapa de travessia onde cor e forma se unem para abrir passagens simbólicas.

Benedito nos oferece não apenas pintura, mas um convite ao trânsito entre dimensões: a dimensão do olho, da cor e do espírito. É nesse espaço entre o rigor da forma e a vitalidade da cor que sua obra se afirma — monumental, ritualística, inesgotável.”

Introduction

The Chromatic Portal series, by Benedito Cesar Silva, stands as one of the most compelling exercises in contemporary Brazilian art. Colour, repetition, and form become the essential matter in the construction of a visual discourse that transcends the pictorial plane and unfolds as an immersive experience.

Each work is more than painting: it is passage. The portal, a universal archetype of transition, becomes here a formal and poetic matrix. Multiplied in rhythmic cadence, it transforms into pattern, architecture, and a chromatic ritual.

Context

Historically, constructive abstraction sought rigour and rationality, while optical art explored perception and the instability of vision. Benedito, however, moves beyond these limits: by repeating the arch, he not only explores visual impact but creates a liturgy of colour, in which each chromatic variation suggests distinct atmospheres — solar, shadowed, mineral, festive, volcanic.

In this sense, the series resonates with traditions such as mosaics, tapestries, tilework, and ornamental patterns, reinterpreting them in a contemporary and spiritual key.

Poetics of the Work

Repetition, in Chromatic Portal, is not redundancy but resonance. Each arch echoes the one before and anticipates the one after, in a continuous movement that reveals time in layers.

Colour assumes absolute protagonism. The artist does not employ it as ornament, but as vital substance:

  • Incandescent reds reveal energy and combustion.

  • Golds and ochres evoke mineral strata and ancestral memory.

  • Intense and electric blues suggest cosmic passages.

  • Dense greens recall organic matter and primordial life.

Each portal embodies a state, an atmosphere, a visual and sensorial experience.

The Viewer’s Experience

The viewer does not merely contemplate the series: they are absorbed by it. The gaze, travelling across the infinite repetition of arches, is led into a meditative state. From close range, the density of chromatic layers is perceptible; from afar, the work pulses as a single entity, a vibratory field that alters spatial perception.

The result is an immersive encounter: Chromatic Portal transcends mere visuality and becomes a rite of passage for the eye.

Place within Art History

The series connects to historical movements such as Op Art, Geometric Abstraction, and Constructivism, yet distinguishes itself by its symbolic and spiritual emphasis. The portal, a symbol of threshold, is here reinterpreted as a metaphor for art itself: a passage between the visible and the invisible, between the ordinary world and the realm of mystery.

Conclusion

“Chromatic Portal is more than a series of works: it is a spiritual cartography. Each piece is a chapter of an endless narrative, a map of traversal in which colour and form converge to open symbolic passages.

Benedito offers us not merely painting, but an invitation to move between dimensions: the dimension of the eye, of colour, and of spirit. It is within this space — between the rigour of form and the vitality of colour — that his work affirms itself: monumental, ritualistic, inexhaustible.”

Ambientação / Setting

9d0a47a5-1161-4466-8a96-cf9ead6fd4f8.png
bottom of page